NOTA: O texto que se segue faz parte do espaço "Denúncia pública", onde os seus artigos não são escritos pelo EDR, mas sim por pessoas que tenham enviado o seu testemunho e experiência dentro do PCP e/ou JCP.
Entrei para a JCP, mais especificamente para o núcleo de Braga, por partilhar ideias semelhantes e com a intenção de encontrar um espaço onde pudesse manifestar-me e participar ativamente em relação a problemas e causas, na luta que é tão necessária.
Porém, desde o início, reparei em certos comportamentos de alguns membros e da própria organização que me deixaram de pé atrás, o que levou à minha saída e afastamento da organização.
Inicialmente, a JCP parecia-me um lugar aberto e flexível. Participava na maior parte das distribuições, convívios e manifestações, mas, ao longo do tempo, comecei a perceber que, se não estivesse disponível 24 horas por dia para a organização, era considerada uma má camarada. Diziam-me que “precisava de me sacrificar em prol do coletivo”, palavras ditas por membros da própria Direção da altura, não vou citar nomes, mas quem é da zona sabe perfeitamente a quem me estou a referir. Na altura já muitos camaradas acabavam por abandonar ou afastar-se da organização por se sentirem oprimidos ou mesmo perseguidos.
Passado um tempo eu comecei também a sentir esse mesmo sentimento de perseguição, por exemplo, quando não conseguia comparecer a uma atividade ou ir ao CT num determinado dia por motivos pessoais ou porque estava ocupada, tanto a Direção como os camaradas interrogavam-me e pediam-me que apresentasse provas de que realmente não poderia comparecer, insinuando que eu estaria a mentir.
Quando realizava as ações de contacto, tinha frequentemente um membro da Direção a fiscalizar-me e a insistir para que interrogasse os camaradas que estava a contactar. Se esses mesmos camaradas respondessem que não podiam comparecer, a reação era de ódio para com eles, com comentários desnecessários e ofensivos , como se fossem mentirosos ou não se importassem. Para além disso, o tom usado era muitas vezes elevado e agressivo. Mas a perseguição não ficava por aqui, a própria organização já queria controlar as pessoas com quem me relacionava. Houve uma ocasião em que fui fechada numa sala e me disseram que não poderia interagir com pessoas que não fossem da juventude, alegando que qualquer pessoa de fora poderia “manipular-me ou tentar corromper-me”.
A partir deste ponto, decidi que precisava de fazer algo. Reuni alguns camaradas que partilhavam as minhas preocupações e exigi que fosse marcada uma reunião para discutir questões como o tom de voz usado, a disponibilidade dos camaradas, entre outros temas.
Essa reunião, no entanto, não levou a nada além de palavras vagas, como “vamos ter mais em conta a questão da flexibilidade”. Apesar disso, continuei à espera de mudanças, mas as coisas apenas pioraram.
Nas reuniões da CT, não nos permitiam abordar questões ou assuntos que consideramos relevantes. Muitas vezes éramos mandados calar para “não divagar”, e as reuniões resumiam-se a marcar quando se iria distribuir panfletos. As ações de contacto tornaram-se longas horas do meu dia, e não me deixavam sair do CT, mesmo quando já era muito tarde.
Houve uma vez em que pedi que uma colega viesse ter comigo ao CT para depois me acompanhar até casa, mas recusaram, pois ela não era “camarada”.
Neste ponto, queria sair, mas já tinha criado uma ligação com alguns camaradas e sentia que perderia essa conexão. Sempre que falava em sair, acabava por ser manipulada a ficar, sentindo-me culpada por abandonar a luta.
Contudo, o mais grave foi utilizarem nomes de pessoas, sem o seu conhecimento, para a criação de listas para os órgãos académicos da Universidade do Minho. Muitos desses nomes eram de amigos da JCP ou simpatizantes que tinham apenas participado em convívios, e muitos nem sabiam que os seus nomes estavam lá. Segundo membros da Direção, “as listas eram neutras e não tinham nada a ver com a juventude”. No entanto, todo o conteúdo da propaganda das listas tinha de ser submetido à Direção da JCP para aprovação antes da publicação.
Foi aí que me apercebi de que algo não estava bem. Aos poucos, comecei a afastar-me. Durante o período de eleições legislativas, ainda participei em algumas distribuições, mas chegou um momento em que escrevi a minha mensagem de saída e manifestei o meu à Direção. Após a minha saída e afastamento, ainda hoje recebo telefonemas e mensagens de camaradas que lá ficaram, convidando-me para manifestações e outros eventos. Compareço ocasionalmente, mas já tive uma conversa pessoal onde deixei claro que não pretendo voltar.
A verdade é que nesta denúncia eu poderia ter mencionado muitas mais questões que me preocupam dentro do PCP como da JCP, contudo acho que já deu para entender que existe pouca vontade de mudança e uma tremenda falta de abertura em ambas as estruturas.